
Foi ali que Peleu a viu, e ficou logo enfeitiçado. Chegou a dar um passo em sua direção, mas ela simplesmente correu pela areia da praia e foi desaparecer entre as ondas verdes do mar, deixando-o atônito, infeliz para todo o sempre, condenado a amar uma mulher inatingível. Então ele resolveu aconselhar-se com o centauro Quíron, velho mestre que tinha educado a ele e a tantos outros heróis. Quando ouviu o relato de Peleu, concluiu que se tratava de Tétis. Disse Quiron:
- É uma mulher para poucos, meu filho. Até o próprio Zeus a cobiça. Agora, se realmente é essa mulher que desejas, vais ter de provar que és homem suficiente. Ela pode assumir a forma que bem entender: de serpente, de fogo, de tigresa, sendo dessa forma que ela se livra de todos os seus pretendentes. Se achas que é essa a mulher que te fará feliz, espera que ela adormeça e põe toda a tua vida num abraço definitivo. Aconteça o que acontecer, não fraquejes, e ela acabará sendo tua.

Peleu ficou muito grato à Quíron, não sabendo que o velho centauro dava o mesmo conselho a todos seus discípulos, porque toda mulher tem um pouco de Tétis: quando assustada, pode queimar e ferir, mas se o seu homem a envolver num abraço verdadeiro e absoluto, sem nada pedir ou perguntar, em pouco tempo ela voltará à forma com que o conquistou.

O mito de Tétis e Peleu simboliza a conquista nas relações humanas. Muitas vezes corremos atrás do amor e apesar da insistência, o amor foge, pois o amor não domina, o amor se conquista e se constrói. E para construir o amor é necessário que estejamos preparados para lidar com as imperfeições do outro, com compreensão e tolerância, aprendendo mais sobre nós mesmos.
O ser humano experimenta, basicamente, três formas de amor, identificadas pelos antigos gregos como: Eros, que está centrado na dependência dos parceiros; Filos, que se baseia na segurança; Ágape, o amor incondicional.

Sempre criamos couraças, máscaras que não refletem o nosso verdadeiro eu, na tentativa de nos defender e sobreviver, ficando imune à dor de um amor. Expressamos imagens que, acreditamos, vão garantir a aceitação pelos outros, vão atrair as pessoas até nós ou fazer com que elas nos admirem e queiram ser como nós. Desenvolvemos um conjunto de jogos que não são verdadeiros, mas que serve a nossos objetivos.
Então, Eros, o deus de olhos vendados, nos atinge com as flechas do amor penetrando nas barreiras do ego e dos mecanismos de defesa que criamos. Sem lógica e sem razão, estamos apaixonados, mas não nos apaixonamos realmente pela pessoa, apaixonamos por quem queremos que ela seja. Mais tarde começamos a perceber as qualidades da pessoa, e ela já não é mais o que pensávamos ser.
As pessoas se apaixonam por causa da correspondência de vulnerabilidades e inseguranças, não por causa da correspondência de forças. Os problemas têm início quando, dolorosamente, começam a reconhecer no parceiro características que não são exatamente o que pensava. As defesas se erguem novamente à medida que os dois amantes começam, gradualmente, a reaprender que são pessoas diferentes, com identidades diferentes.
Às vezes, rapidamente saímos do relacionamento que fracassou e, como remédio, procuramos outra pessoa por quem nos apaixonar. Acalentamos a idéia de apaixonar-nos e viver felizes para sempre. Criamos as barreiras do ego umas após as outras, enquanto buscamos o relacionamento perfeito, barreiras geradas por experiências do passado, resultado de muita infelicidade, miséria, projeção, acusação, culpa e censura de relacionamentos anteriores, e isso invariavelmente é levado para o novo relacionamento.

AMOR FILOS
Após o caos inicial da atração de Eros, um relacionamento muda de forma e se torna um relacionamento de compromisso, o amor Filos. Começamos a reconhecer os valores do outro e nos comprometemos a partilhar a vida e os interesses. Num esforço para manter o estilo de vida, frequentemente as partes mais profundas do Eu são suprimidas ou negadas.
Os sentimentos e pensamentos mais profundos são sacrificados. Lida-se com as questões, porém num nível superficial. Geralmente, há respeito e verdadeira compreensão, embora não haja um conhecimento profundo do outro. Com freqência, os parceiros vivem como estranhos, partilhando um espaço comum. Às vezes, há um sentimento de resignação, ressentimento e tédio nos relacionamentos Filos.
Os parceiros se falam, mas nunca conversam; olham um para o outro, mas não se vêem. Frequentemente, podemos observar Filos em ação em restaurantes, onde à mesa o casal fica de frente um para o outro, e conversa muito pouco ou nada, simplesmente fazendo a refeição junto, passando o tempo. Mil pensamentos podem passar pela cabeça: "Poderia ter sido diferente..." "Se ele fosse diferente..." "Se eu não tivesse renunciado à minha carreira..." "Se nós não tivéssemos tido filhos tão cedo..."
Há o sonho do "que poderia ter sido", acompanhado de sentimentos de amargura ou culpa com relação ao parceiro, por não ser o homem que ela acreditava que fosse ou ela não é a mulher que sonhava, quando se casaram. Às vezes, as razões para se manter um relacionamento são baseadas na necessidade. Precisam manter a aprovação da família, da comunidade, da igreja, etc. Mesmo que o relacionamento não seja totalmente satisfatório, satisfaz em muitos níveis e talvez seja melhor do que ficar sozinho.

AMOR ÁGAPE
O amor Ágape é aquele que amamos a pessoa do jeito que ela é, sem separar em qualidades e defeitos, compartilhando intimidades sexuais e morais, sociais e mentais: um amante, um parceiro, um amigo, um companheiro. Não amamos por causa de, ou apesar de... amamos apenas pelo sentimento. Pode não ser uma chama flamejante como o amor de Eros, mas traz prazer e calma, relaxa, tranquiliza.
Traz segurança, crescimento, amadurecimento, e passo-a-passo trilha-se um caminho que os torna mais cúmplices, mais verdadeiros um com o outro. Não há raiva ou mágoa, muito menos ressentimento guardados, porque acima de tudo há Amor. No amor Ágape não existe controle; cada um é livre, um ser individual, e sente a mesma reciprocidade.
O comprometimento que existe deriva do sentimento que os une, não da posição social ou financeira; há tranquilidade e paz. Pode surgir atração por outras pessoas, mas nessa fase o desejo será encarado como atração por alguém belo, e nada mais do que isso. Saciados, satisfeitos, não estão carentes ou desprovidos de algo, apenas ainda são humanos e sabem o que é beleza e sedução. Não há jogos, estratégias ou máscaras, não existe a tentativa de aprisionar. Há plena segurança do sentimento que um sente pelo outro.
Dizem que o amor Ágape só se sente pelos filhos, pois quando unidos ao sexo oposto, misturamos desejo e paixão, e nos tornamos possessivos e críticos, desejando ser amados como amamos, às vezes mais do que amamos, jamais menos. Dar implica em receber, sempre. Bem, quem pensa assim é porque ainda não ultrapassou a terceira fase de um relacionamento - a paixão, o desapaixonar-se, a reconquista, o re-começo, e enfim, o relacionamento.
Normalmente estamos sempre correndo, buscando, e esquecemos de fazer do encontro uma união, achando que em outro poderemos encontrar logo a fase Ágape, pulando etapas de sofrimento e mágoa. Ledo engano: amar é um eterno aprendizado, e quanto mais amamos, mais sentimos que não sabemos nada dessa força mágica e poderosa.
Há quem diga que o Amor teria três faces - Eros, Afrodite e Pã; e um relacionamento para a vida inteira passaria inevitavelmente por todas. A conquista da junção seria individual, e dependeria da força do sentimento individual, e da capacidade de relacionar-se, bem como da perseverança em trilhar o caminho em direção ao Amor Ágape.
fonte: mitologia grega